Comissão de Saúde diz que falta de esterilização está afetando hospitais

materialsppacientesTERÓI – A Comissão de Saúde da Câmara dos Vereadores constatou que a falta de esterilização de utensílios está afetando o funcionamento dos hospitais municipais. O problema seria fruto do encerramento do contrato com a Bioxxi, empresa que prestava o serviço até o ano passado. A prefeitura, no entanto, afirmou que os procedimentos não foram interrompidos na rede.

Após receber denúncias sobre problemas na higienização de utensílios, a Comissão de Saúde fez vistorias nos hospitais Carlos Tortelly e Orêncio de Freitas. Em ambos, segundo o vereador Paulo Eduardo Gomes (PSOL), presidente da comissão, diretores das unidades admitiram a interrupção do serviço. Os servidores ainda teriam relatado problemas na realização de alguns procedimentos, como exames de colonoscopia e endoscopia. Gomes explica que as unidades vêm fazendo a esterilização apenas de itens metálicos.

— Algumas unidades têm autoclaves, que podem esterilizar metal. Mas há outros materiais que precisam de procedimentos químicos para serem reutilizados. Sem o contrato, é possível que as unidades estejam tendo que descartar — afirma o parlamentar.

Para Gomes, a unidade mais prejudicada com o problema é o Hospital Orêncio de Freitas. Especializado em cirurgias, a unidade tem cerca de 3 mil pessoas na fila de espera, segundo ele:

— Está se formando uma longa fila por uma série de razões. Uma delas é a falta de esterilização de materiais.

A prefeitura confirmou que o contrato expirou no fim do ano passado depois de 60 meses em vigor, mas negou que isso esteja prejudicando o funcionamento das unidades. Em nota, disse que o novo processo licitatório, iniciado em 2015, teve de ser revisto em função do aumento expressivo da demanda da rede e da entrega de novas unidades, mas afirmou que irá concluí-lo nos próximos dias. O texto diz ainda que não houve interrupção de procedimentos ou serviços nas unidades Orêncio de Freitas e Carlos Tortelly, e que nos casos em que a esterelização não é possível, tem-se utilizado material descartável.

Clovis Cavalcanti, presidente do Sindicato dos Médicos de Niterói e São Gonçalo, afirma que também já recebeu reclamações sobre a falta de esterilização na rede municipal, e alerta para o risco à saúde dos pacientes.

— Já recebemos relatos de que a esterilização está sendo feita precariamente. Se ela não for bem feita, pode acabar contaminando o paciente, inclusive com doenças graves — diz.

Cavalcanti cita o caso das bolsas de colostomia, que teriam passado pelo problema.

— Isso é grave, porque é a única forma do paciente eliminar sua fezes. Se a bolsa não for disponibilizada, ele vai ter que comprar. Se não tiver condições financeiras, como vai fazer? — questiona.

Em duas oportunidades, em março e dezembro do ano passado, o GLOBO-Niterói teve acesso à fila de espera por cirurgias do Orêncio de Freitas. Em ambos os casos, cerca de 1.800 pessoas aguardavam por operações de vesícula por videolaparoscopia e de hérnia na unidade. Operações proctológicas, plásticas restauradoras e cirurgias na tireoide também são realizadas na unidade, mas o agendamento é feito pelas unidades básicas da rede, que ficam com o controle das listas de espera. Para Clovis Cavalcanti, a situação do Orêncio de Freitas é de abandono.

— O Orêncio de Freitas está sucateado, não faz mais praticamente nada em termos de cirurgia. Tentou-se fazer cirurgias pediátricas, mas por uma série de razões não deu certo — relata, antes de citar o caso de procedimentos cirúrgicos em outras unidades — O Getulinho, que reabriu parcialmente, deveria ter centro cirúrgico e cirurgiões pediátricos, mas não tem. As emergências cirúrgicas em Niterói estão sendo levadas para o Hospital Estadual Alberto Torres, em São Gonçalo — critica.

A prefeitura nega que o fim do contrato tenha aumentado a fila de cirurgias. “Os serviços não foram suspensos, logo a informação não procede. O Orêncio de Freitas realiza procedimentos em pacientes de toda a Região Metropolitana II, que são contrarreferenciados, por meio da Central de Regulação, o que demanda um grande número de usuários. A unidade realiza cirurgias eletivas, urgências abdominais e inflamatórias, entre outras, e retomou inclusive o procedimento de laqueadura”, afirmou, em nota.

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