Astrônomos brasileiros descobrem anel em planeta anão vizinho de Plutão

Trabalhando em conjunto com uma equipe internacional, um grupo de astrônomos brasileiros descobriu a existência de um anel, similar aos do gigante Saturno, em um planeta anão vizinho de Plutão. A descoberta foi publicada nesta quarta-feira (11) na revista científica Nature. O anel circunda Haumea, um dos planetas anões próximos a Plutão, localizado no que os astrônomos chamam de Cinturão de Kuiper.

Situado após a órbita de Netuno, o cinturão é composto por objetos de gelo e rochas entre os quais se destacam quatro planetas anões: Plutão, Eris, Makemake e Haumea. Esses objetos são difíceis de estudar porque são pequenos, brilham pouco e, devido às enormes distâcias, são difíceis de detectar mesmo com telescópios potentes.

A descoberta resultou de um trabalho conjunto liderado pelo astrônomo espanhol Jose Luis Ortiz, do Instituto de Astrofi sica de Andaluzia (IAA-CSIC), e contou com a participac a o de astrônomos e alunos brasileiros do Observato rio Nacional, ligado ao Ministério da Ciência Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), do Observato rio do Valongo, ligado a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade Tecnolo gica Federal do Parana (UFTPR), filiados ao Laborato rio Interinstitucional de e-Astronomia (LIneA).

O método de observação usado pelos astrônomos consiste em estudar as ocultac o es estelares, que é quando esses objetos passam à frente de uma estrela, como um pequeno eclipse. Com o método foi possível determinar as principais características de Haumea, como tamanho, forma e densida, além do anel.

A observação ocorreu em 21 de janeiro e contou com a participação de 12 telescópios de dez observatórios europeus. “Grac as a estas observac o es foi possi vel reconstruir com grande precisa o a forma e o tamanho do planeta ana o Haumea e descobrir, para nossa surpresa, que ele e consideravelmente maior e reflete menos luz em comparação com o que acreditávamos anteriormente. Ele e também muito menos denso do que pensa vamos, o que respondeu a questo es que estavam pendentes sobre este objeto”, disse Jose Ortiz.

Segundo o professor do Programa de Pós-Graduação em Física e Astronomia da UTF-PR, Felipe Braga Ribas, as pesquisas sobre o corpo celeste vão continuar com a realização de simulações.  “Os próximos passos são continuar observando esse objeto, fazer modelos e simulações sobre esse anel, ver como esse anel pode ou não evoluir, tentar entender do que ele é formado e qual a influência da rotação do Haumea, que é muito elevada, para a formação desse anel”, comenta Felipe Ribas.

A pesquisa tem importância, ainda segundo o astrônomo, por reafirmar o preparo do Brasil para a realização de pesquisas de grande impacto na ciência mundial. “A oportunidade desta descoberta vem pelo fato de nós estarmos realizando pesquisa de ponta. Mais do que isso, proporciona trazer nossos alunos, nossas instituições para o destaque que esse tipo de descoberta proporciona, porque mostra que estamos juntos aos países que estão realizando pesquisa de alto nível”, ressalta o pesquisador.

A descoberta do anel foi uma surpresa para os astrônomos. “Ha apenas alguns anos, só conhecíamos a existência de aneis em torno dos planetas gigantes e há muito pouco tempo, o mesmo grupo descobriu também que dois pequenos corpos, Charklo e Chiron, situados entre Ju piter e Netuno, pertencentes a fami lia de objetos denominados Centauro, têm ane is densos, o que foi uma grande surpresa. Agora descobrimos que corpos mais distantes que os Centauros, maiores e com caracteri sticas muito diferentes, tambe m podem ter ane is”, afirmou o astrofísico espanhol Pablo Santos-Sanz, tambe m coautor e membro do IAA-CSIC.

De acordo com os dados obtidos, o anel se encontra no plano equatorial do planeta ana o, da mesma forma que seu maior sate lite Hi’iaka, e esta em ressonância 3 por 1 em relac a o a rotac a o de Haumea – o que significa que as parti culas geladas que compo em o anel completam uma volta em torno do planeta enquanto este gira 3 vezes em torno do seu eixo.

“E a primeira vez que um anel e descoberto em torno de um objeto transnetuniano o que mostra que a presenc a de ane is pode ser mais comum do que se pensava anteriormente, tanto em nosso Sistema Solar como em outros sistemas planeta rios. “Existem va rias explicac o es possi veis para a formac a o do anel. Ele pode ter se originado de uma colisa o com outro objeto, ou pela liberac a o de parte do material superficial devido à ra pida rotac a o de Haumea”, disse Ortiz.

Por causa da grande distância, Haumea leva 284 anos para dar uma volta em torno do Sol, em uma órbita elíptica. Em razão disso e de sua velocidade de rotaça o – Haumea dá uma volta completa em seu prórpio eixo em 3,9 horas –, muito mais ra pida que qualquer outro corpo do Sistema Solar com mais de cem quilômetros de diâmetro, o planeta anão é achatado e possui um formato similar ao de uma bola de rugby.

Os dados coletados mostraram ainda que Haume mede 2.320 quilômetros no seu maior lado, quase igual ao diâmetro de Pluta o, mas que, ao contrário do que ocorre com o planeta vizinho, na o possui uma atmosfera global. Plutão teve sua categoria rebaixada em 2006 de planeta, para planeta anão, ao lado de Ceres, Érisa, Makemake e Haumea.

 

 

Fonte: Jornal do Brasil

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