Crav apresenta diagnóstico de violência contra a mulher em Vitória da Conquista.

Os números da violência contra a mulher em Vitória da Conquista agora estão reunidos em um único documento.O Centro de Referência da Mulher (Crav) apresentou o diagnóstico elaborado com dados coletados junto aos Cras, Creas, Secretaria Municipal de Saúde e órgãos da Justiça e da Segurança Pública – frentes que compõem a Rede de Proteção à Mulher.

“Essa necessidade surgiu em reunião da Rede, ano passado, de fazer um levantamento para verificar quais eram os problemas, por que a violência contra a mulher no município de Vitória da Conquista estava crescente e também buscar achar soluções”, explica a coordenadora de Políticas Públicas para Mulheres, Dayana Andrade. Para ela, uma das medidas possíveis a partir desse estudo é a elaboração do Plano Municipal de Políticas para Mulheres.

O diagnóstico foi apresentado no Crav, pela coordenadora de Políticas para Mulheres, Dayana Andrade

O diagnóstico aponta a incidência da violência contra a mulher em diversos recortes, como cor, idade, localidade, tipo de agressão e relação da vítima com o agressor. “Nunca se teve um estudo específico direcionado para a violência contra a mulher dentro de Vitória da Conquista, de buscar elementos e dados mais detalhados. Isso se faz necessário para que possamos fazer a política da mulher, a gestão, de forma conjunta, e tentar sanar os problemas”, completa a coordenadora.

Para a juíza da Vara de Violência Doméstica e Familiar, Julianne Nogueira, o diagnóstico será um importante fator direcionador de novas estratégias de enfrentamento da violência contra a mulher. “Esse trabalho do Crav foi muito valioso, porque ele traz, pormenorizados, dados estatísticos e mostra um caminho para que a gente, diante desse diagnóstico, faça novas mudanças, intervenções dentro do município; mostrando as falhas dos serviços, mostrando onde a gente precisa atuar, onde a gente precisa arregimentar as pessoas para trabalhar nessa frente”, avalia.

Representantes dos órgãos que compõem a Rede de Proteção à Mulher e convidados participaram do encontro

A escrivã da Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam), Hannah Barbosa, elogiou a iniciativa e enfatizou a relevância do trabalho em conjunto: “A Rede é de essencial importância para o combate da violência doméstica e familiar, porque sem ela a gente não é possibilitado de fazer nada, porque a queixa pela queixa, só, não melhora a situação da mulher que está em violência. É necessário que sejam feitas todas as políticas de eficácia, tudo que for possível em prol do bem estar da mulher na sociedade.”

O diagnóstico – Os dados foram coletados junto aos órgãos que compõem a Rede de Proteção à Mulher e são referentes ao ano de 2018. Os números apontam que a violência contra a mulher em Vitória da Conquista tem crescido, refletindo uma realidade muito próxima do cenário nacional.

Na Vara da Violência Doméstica e Familiar, foram contabilizadas 460 medidas protetivas distribuídas e 17 medidas redistribuídas. A juíza da Vara, Julianne Nogueira, chama a atenção para outro fator preocupante: “Desde que foi implantada a Vara, em 2016, o nosso gráfico é sempre crescente. Este ano, a gente está chegando à metade do ano, e ele já está ultrapassando a marca de 2018.”

Das mulheres atendidas por medidas protetivas em 2018, 67% têm idade entre 25 e 44 anos, e 93% delas são pardas ou negras. Os agressores de 89% das vítimas são os seus atuais ou ex5-companheiros, namorados e maridos.

Também em 2018, a Deam registrou 1.689 ocorrências de violência contra a mulher. Dessas, 114 foram encaminhadas ao Crav. No total, o Crav realizou 234 acolhimentos de mulheres vítimas de violência. Isso totalizou 1.872 atendimentos, considerando que uma mesma mulher pode passar, por exemplo, por atendimentos psicológico, de assistência social e orientação jurídica. Atualmente, o serviço conta com 183 referenciadas ativas. A Ronda Maria da Penha, por sua vez, acompanha hoje 236 medidas protetivas.

Das 701 mulheres que buscaram algum serviço municipal de saúde, motivadas por agressões, a maioria também é preta, parda e de baixa escolaridade. Das vítimas, 404 sofreram violência física, 426 passaram por violência psicológica e 285 vivenciaram violência sexual. Também foram relatados casos de violência financeira e tortura.

Tanto nas ocorrências de medidas protetivas, quanto nas de mulheres atendidas pelos serviços de saúde, os bairros Brasil e Alto Maron foram os que mais apresentaram incidência de agressões. Além disso, em todos os casos, é preciso considerar que as notificações refletem apenas uma amostra da realidade da violência doméstica no município, visto que muitas mulheres não buscam ajuda dos órgãos competentes.

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