Moradores de Coutos ignoram riscos à saúde e comem carne de baleia encalhada

“Foi uma multidão descendo até a praia na sexta-feira. Gente com peixeira do lado e balde na mão. Teve gente subindo isso aqui tudo com o carrinho-de-mão cheio de carne e gordura”. Disse uma moradora do bairro de Coutos, no Subúrbio Ferroviário, sobre o destino da baleia jubarte que encalhou na região na última sexta-feira, 30.

O relato dos residentes locais, muitos dos quais não quiseram se identificar, fazem voz com os vídeos que circularam nas redes sociais e aplicativos de mensagens durante o fim de semana. Nas imagens que correram a internet, via-se o animal sendo destrinchado por populares em busca de sua carne e gordura.

Segundo o açougueiro A.S., que pediu para não ser identificado, na noite do dia 31, vários populares desceram à praia “para cair matando, tirando os pedaços da baleia. Aí, me pediram e eu tirei as partes pra eles, pedaços de 20, 30 kg. Eu tirava o toucinho, jogava ali pra quem quisesse, e eles levavam a carne. Foi muita gente. Teve até quem desse mais de duas viagens”.

Apesar de a carne da baleia ser apreciada em algumas culturas, como a japonesa, a Lei 7.643, de 18 de dezembro de 1987, protege os cetáceos (mamíferos marinhos) em águas brasileiras, proibindo a sua pesca, molestamento e comercialização.

Segundo o infectologista Adriano Oliveira, o consumo da carne da baleia encalhada é muito perigoso, uma vez que há a possibilidade de esse animal ter morrido por alguma doença e ter agentes infecciosos que possam atingir seres humanos e animais.

“O primeiro grande questionamento que a gente tem de fazer é: ”será que esse animal, mesmo com uma morte recente, não estava doente? E depois, devemos pensar se essa doença pode ou não atingir os seres humanos. Há que se perguntar também em que estado de conservação estava a carne que essas pessoas estão consumindo. O número de agentes infecciosos que podem atingir um animal desses é absurdo”, ponderou o infectologista.

Apesar dos riscos à saúde, para o pescador Álvaro Soares, 63 anos, a baleia foi um presente de Deus. “O mal é o cara chegar em casa e ver as panelas batendo vazias e os filhos com fome. O que a gente teve aqui foi um presente que Deus mandou. Eu comi a carne, como muita gente aqui também comeu, e não me fez mal nenhum até hoje”, afirmou.

Já Luis Paulo, também pescador, disse que a carne recolhida por ele na sexta-feira vai alimentar a família até sábado. “Eu peguei 40 kg. de carne e ela é muito gostosa”, falou enquanto mostrava a carne guardada para a próxima refeição.

A carcaça da baleia jubarte, que tinha 15 metros e pesava cerca de 30 toneladas, foi transferida para a praia de Tubarão por equipes da Empresa de Limpeza Urbana de Salvador, Limpurb, na tarde dessa segunda-feira, 2.

 

Fonte: A Tarde

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