Condenação comprova que ‘La Vue’ foi ‘início do fim’ para carreira política de Geddel

A condenação do ex-ministro Geddel Vieira Lima no caso do Edifício La Vue é o encerramento de uma história que pode ser tratada como o “início do fim” do emedebista. Até a denúncia do então ministro da Cultura, Marcelo Calero, Geddel, atualmente em cumprimento de pena pelo episódio do bunker de R$ 51 milhões, era considerado um homem extremamente poderoso. Tanto que, mesmo tendo rompido com o PT na Bahia, se manteve em cargos federais durante a administração da petista Dilma Rousseff. A derrocada política do emedebista baiano foi no governo de Michel Temer, quando Calero trouxe a público o eventual tráfico de influência. Agora, mais de três anos depois, a Justiça confirmou que houve improbidade administrativa.

O processo de licenciamento do “La Vue” é uma prova de que agentes políticos confundem o público e o privado quando se trata de interesses pessoais. Geddel era investidor no empreendimento, tendo adquirido uma das unidades, conforme argumento da própria defesa. Como o espigão na Ladeira da Barra estava com licenças empacadas no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), um empurrãozinho de um influente ministro poderia fazer a coisa andar… Até andou. Mas foi ladeira abaixo…

Calero ganhou projeção nacional a partir desse episódio, em novembro de 2016. Chegando à Esplanada com um governo questionado por parcela da população, também não era tão querido pela classe artística na época – menos rejeitado do que os sucessores na era Bolsonaro, mas ainda assim com resistências dignas de registro. A saída “honrosa” ao bater de frente com Geddel o catapultou politicamente a ponto de ser eleito deputado federal dois anos depois.

Já emedebista baiano era da coxia de um Temer recém-chegado ao Palácio do Planalto. Era tido como figura com ascendência sobre o amigo de longa data. Tanto que, quando o impeachment de Dilma foi confirmado, Geddel fatalmente estaria em um ministério. Só não se sabia em qual. O destaque era merecido. A construção da carreira política dele era marcada por controvérsias, mas também por articulações que o levaram até aquele ponto. Mais uma vez na Esplanada, maior cargo exercido por ele até então. Talvez por isso, a queda de um lugar tão alto tenha chamado tanta atenção.

A condenação por improbidade administrativa não terá tanto efeito prático. Dificilmente Geddel exerceria função pública nos próximos cinco anos ou contrataria com o poder público dentro de três anos. O ex-ministro cumpre pena de mais de 14 anos de prisão. A multa, de 10 vezes o salário do cargo exercido à época, é uma mixaria perto das devoluções imputadas a ele em outros processos. Mesmo assim, o “início do fim” acaba marcado também por uma sentença judicial. “La Vue” foi uma vista que Geddel provavelmente nunca quis ter.

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