Explosões em igrejas cristãs deixam dezenas de mortos e feridos no Egito

1709919Duas explosões em igrejas egípcias mataram ao menos 44 pessoas e deixaram mais de cem feridos durante as celebrações de Domingo de Ramos (9), semanas antes da visita do papa Francisco.A organização terrorista Estado Islâmico reivindicou as ações por meio de um de seus canais oficiais e prometeu intensificar a violência, desafiando a habilidade do governo de proteger sua principal minoria religiosa.

O presidente do Egito, Abdel Fattah al-Sisi, decretou um estado de emergência de três meses. A medida não foi detalhada, mas deve facilitar detenções e proibir protestos. O Parlamento precisa aprovar a sua implementação.

O primeiro ataque deixou ao menos 27 mortos e 78 feridos na igreja de Mar Girgis, na cidade de Tanta, no delta do rio Nilo, segundo o Ministério da Saúde do Egito.

Um homem-bomba explodiu em seguida diante da catedral de São Marco, em Alexandria, na costa mediterrânea, vitimando ao menos 17 pessoas e ferindo outras 48.

O patriarca Tawadros, líder da igreja egípcia, estava no edifício atacado em Alexandria, mas não se machucou. “Esses atos não irão ferir a unidade do povo”, disse.

COPTAS

Imagens de Tanta mostram os bancos da igreja ensanguentados entre fumaça. Alguns corpos estão no chão, cobertos por papel.

Mar Girgis é o nome dado no Egito a São Jorge. Os coptas, ramo egípcio do cristianismo, correspondem a cerca de 10% da população de mais de 90 milhões. Apesar de os atritos no dia a dia serem raros, houve outros episódios de violência sectária durante os últimos anos.

Os ataques se tornaram mais comuns depois da queda do presidente islamita, Mohammed Mursi, que representava a Irmandade Muçulmana. Islamitas culpam cristãos por terem apoiado o golpe militar de 2013.

A organização terrorista Estado Islâmico, que assumiu um ataque contra outra igreja copta em dezembro de 2016, com 25 mortos, havia voltado a ameaçar cristãos em um comunicado divulgado em fevereiro deste ano.

Essa milícia radical, baseada na Síria e no Iraque, tem um importante braço no norte do deserto do Sinai.

Dezenas de cristãos deixaram o Sinai em fevereiro após uma onda de assassinatos por essa organização.

FORÇAS DO MAL

O ataque à igreja aumentará a pressão para que o presidente do Egito, Abdel Fattah al-Sisi, incremente a segurança e impeça novos atentados. Ele anunciou que soldados vão auxiliar a polícia na proteção de locais em risco, uma medida rara.

Há receio entre ativistas de que isso leve a um recrudescimento ainda maior no país, onde as liberdades individuais têm minguado, segundo organizações de defesa dos direitos humanos.

Sisi afirmou, no domingo, que atentados terroristas “não vão sabotar a determinação e a vontade verdadeira do povo egípcio de combater as forças do mal”.

O presidente americano, Donald Trump, afirmou ter “confiança de que o presidente Sisi vai lidar com a situação da maneira adequada”. Trump recebeu Sisi em uma visita à Casa Branca, durante a semana passada.

O Departamento de Estado americano emitiu um comunicado condenando o atentado e dizendo que “os EUA vão continuar a apoiar a estabilidade e segurança do Egito em seus esforços de derrotar o terrorismo”.

PAPA

A explosão na igreja copta coincide com a visita do papa Francisco, prevista para o fim deste mês, o que colocará a tensão sectária e a capacidade do aparato de segurança ainda mais em foco.

O papa afirmou, durante uma missa no Vaticano, que “reza pelos mortos” do ataque às igrejas. “Que o senhor converta os corações das pessoas que semeiam terror, violência e morte e mesmo os corações daqueles que produzem e traficam armas.”

Cristãos egípcios não enfrentam apenas a violência de grupos radicais islamitas. Ativistas acusam também o governo de discriminá-los.

Tribunais condenam coptas com base em um artigo do Código Penal que pune a blasfêmia. Foram três casos em 2011, ano da revolução que derrubou o então ditador Hosni Mubarak. Em 2015, já no governo Sisi, foram 21.

Um dos casos mais emblemáticos dos últimos anos é o dos adolescentes que foram condenados a cinco anos de prisão por gravar um vídeo ridicularizando o Estado Islâmico –o que foi considerado um desrespeito ao islã.

Os jovens dizem que estavam criticando a facção terrorista, no vídeo, por ter matado 21 cristãos egípcios trabalhando na Líbia, em 2015.

 

 

Fonte: Folha

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