Conheça a história de João Hipólito Rodrigues…

(07/10/1911-11/01/1992)

De lavrador da terra infértil do Lamarão a tetraprefeito…
Trajetória privada: garimpeiro, tropeiro, comerciante etc.
Trajetória pública: vereador, tetraprefeito.
Como lavrador da terra infértil do Lamarão, de baixíssimo teor nutriente,
produzia mantimento insuficiente até mesmo para a sua subsistência.
Exercitando múltiplas atividades: garimpeiro, tropeiro e comerciante,
mereceria o cognome de Marco Polo tupiniquim sertanejo.
Como garimpeiro, além da sua produção, adquiria as dos colegas de catra
e vendia para laboratórios em Salvador, em viagem a cavalo até a Estação
Férrea do Jequi, hoje Novo Acre, município de Iramaia, de trem até
Cachoeira e de Cachoeira para Salvador no famoso vapor, que deu origem
a música: O Vapor de Cachoeira, com o seu primeiro verso:
“O vapor de Cachoeira
Não navega mais no mar
Arriba o pano toca o búzio
Nós queremos navegar

Ai, ai, ai, nós queremos navegar”
Com o produto da venda do ouro comprava tecido, miudeza e
quinquilharia, mercadorias transportadas para a estação férrea do Jequi e
dali para Catolés no lombo dos burros de sua tropa, diga-se, parodiando
Luiz Gonzaga, “são dez cabeças é muito pouca é quase nada, mas não tem
outras mais bonitas no lugar”.
Ainda tropeando em viagem que durava semanas, levava café em costais
de 60kg, dois em cada animal, para vender na costa fluvial do rio São
Francisco e de volta trazia surubim e piranha.
Em viagem bem mais curta, fazia o mesmo para Santarém, então distrito de
Água Quente, de onde trazia toucinho suíno, e para Livramento de onde
trazia arroz, em operação que movimentava pouca moeda, funcionando
muto mais como comércio de troca.
Eleito vereador para a Câmara Municipal de Piatã, representante do distrito
de Catolés, não obstante ter como seus pares vereadores dos distritos de
Guarani, hoje Boninal e Abaíra, com mais recursos, porquanto já contavam
com estrada carroçável, foi recordista no número de indicações
socialmente benéficas, como a reforma do mercado, ordenando o seu uso
interno para o comércio de carne, a construção do Cemitério São José,
dada a saturação do cemitério do fundo da Igreja e o aproveitamento, a
demolição do coreto que era conhecido como Alto da Igreja, com o objetivo
alcançado, que foi o enlarguecimento da rua, e a obra emblemática de suas
gestões, não só legislativa, mas, também executiva, a estrada
Piatã/Catolés.
Para se avaliar a importância social dessa estrada, basta dizer que, o doente
sem condições de locomoção no lombo animal, na busca de assistência
médica, era transportado em rede ou cama conduzida por braços humanos
para a Furna, hoje Arapiranga, ou para a volta de serra, com era chamada o
fim da ladeira do Pastim, como aconteceu com o próprio João Hipólito, que
numa crise reumática aguda foi conduzido até o último ponto possível de
carro acessar e dali transportado em um Jeep de José Jones, que não
obstante ser adversário político, atendeu prontamente ao pedido.
Como vereador esteve no Palácio do Catete no Rio de Janeiro, onde, depois
de ser devidamente revistado pelo “Anjo Negro”, Gregório Fortunato, foi
conduzido até o Presidente Getúlio Vargas, por quem foi singelamente

saudado e ao seu lado posou para foto. Esse registro consta nos anais do
Museu da República no Rio de Janeiro.
Na sua gestão como prefeito construiu a ponte da cruz, que hoje leva o
nome do nosso saudoso amigo Miguel Lopes, solucionando a problemática
dos carros de caixeiros viajantes que no inverno atolavam na passagem do
rio e principalmente o caminhão GMC de Edgar Assunção comerciante em
Catolés.
Foram inúmeras obras, porém, com atenção especialíssima à saúde,
educação e justiça, tanto que, para a educação contratou professoras
formadas em Caetité, como Maria do Livramento – Lili, filha de Tião
Dandão para ensinar em Catolés, Zelinda, Biá e Sina para ensinarem em
Piatã, além dos leigos: D. Nenzinha, D. Santa, Quena e César Luz em Catolés,
e para os povoados, Carlos de Maroto, Eliete de Dezinho, Amelinha Soares
e Aidíl, dentre outros.
Ainda na educação, ele levou o professor para o aluno e o aluno para o
professor, salienta-se, quando toda despesa era coberta com recurso
próprio.
A histórica foto feita no dia 07 de setembro de 1954, revela dois caminhões,
um Chevrolet e outro, com muita gente em cima e do lado deles e na frente,
o prefeito Alfredo Soares o vereador João Hipólito e o delegado de polícia
de Piatã, Salvador Santana.

Por que a menção dos caminhões? Porquê no início do ano letivo, o prefeito
João Hipólito, ultimava todos os preparativos para um deles servir de
apanha de estudantes, em Jussiape, os saudosos professores Aurélio e
Valdison, na Água Suja, Fulgêncio Landulfo, (Lu) hoje morador em Mucugê
onde foi prefeito Municipal e o já professor Jairo Pereira, em Abaíra,
Denise, Pradinho e Francisco Oliveira Filho. Em Catolés, as irmãs Ana
(Nazinha) e Arlinda (Arlindinha) Abreu, filhas de seu Lindolfo e D. Santa. Em
Piatā, Miltamira e Jailta, e a viagem, a custo zero, salienta-se, seguia até
Cachoeirinha, atual cidade de Vagner onde os estudantes em regime de
internato estudavam no Ginásio Ponte Nova, hoje Instituto Ponte Nova,
fundado por missionários estadunidenses da Igreja Presbiteriana, sob o
excelente comando do engenheiro e teólogo William Alfred Weddell.
No início das férias o retorno era inverso.
Em atenção às culturas e arte, contratou o maestro Odin Melo para
ministrar aulas de música em Catolés, que foi recebido em tarde e noite
festiva, animada pela filarmônica Lira Popular Catoleense sob o comando
de Nenzinho de Sá Joaninha e José Assunção.
Em atenção à saúde e justiça, trouxe de Salvador o pai médico e filha
promotora.
Mas, tão emblemática, também, foi o loteamento da área que circundava
o Prédio Escolar Pedro Calmon, em Catolés, doando ou vendendo os lotes
a preço simbólico aos que realmente necessitavam e faziam uso reacional
do lote adquirido, como Lio e Joaquina, Jason e Elizete, Zé Cabeludo e
Alice, Sá Maria e seus filhos Manoel e José, este apelidado Coré, Júlia de
Caboclo e seu filho Nilton e outros que construíram suas moradias próprias.
Como na sua trajetória privada e pública não construiu muros, mas, os teve
em sua frente, construídos por adversários políticos e raros inimigos,
construiu sim, pontes, como a já citada sobre o Rio em Catolés e sobre o
Rio Cochó ligando Piatã e o hoje Distrito de Cabrália.
Toda via, marcante também, foi a construção da sede da Prefeitura em
Piatã, concluída no finalzinho de sua administração, que rendeu o
comentário importantíssimo do Odontólogo Godson Xavier, irmão do
prefeito eleito seu futuro sucessor Lindolfo Xavier. “Esse prefeito João

Hipólito merece todo respeito. Nenhum outro construiria uma prefeitura
dessa para ser ocupada por um adversário”.
Diga-se. O prédio funcionou como sede da Prefeitura de Piatã por mais de
meio século. Cabe aqui ressaltar que as construções públicas à época eram
adequadas para no máximo 15 anos. Isso nos conduz á admiração da
insólita harmonização do tino administrativo privado e público de João
Hipólito Rodrigues, autodidata muito bem sucedido.
Essas informações foram extraídas dos neurônios do septuagenário quarto
Altamirando Alves Rodrigues, filho mais velho de João Hipólito Rodrigues.
Portanto, suscetíveis de inexatidão. Contudo, verdadeiras e bem abaixo do
imensurável legado administrativo e muito mais amigo deixado pelo
generoso, altruísta e boníssimo filho, pai, irmão, avô, bisavô, tio e sobrinho
JOÃO HIPÓLITO RODRIGUES.

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