As festas juninas são uma das maiores expressões culturais do Nordeste e, em especial, da Bahia. Mais do que simples comemorações, elas representam a alma do povo nordestino, celebrando a colheita, a fé em São João, São Pedro e Santo Antônio, e claro, a união das comunidades através da música, da dança e das comidas típicas.
As delícias como pamonha, canjica, milho cozido, amendoim, bolos e licor não são apenas sabores — são memórias afetivas que atravessam gerações. O mesmo vale para o som inconfundível da sanfona, zabumba e triângulo, que embalam os casais na tradicional quadrilha e nas noites de forró pé de serra.
Mas nos últimos anos, essa essência tem sido colocada em segundo plano. Em diversas cidades da Bahia, as festas juninas estão sendo descaracterizadas pelas escolhas das prefeituras na hora de contratar atrações. Artistas de outros estilos, como sertanejo universitário, arrocha, axé e até funk, têm ocupado o lugar das bandas de forró — algumas com décadas de estrada e enraizadas na cultura local.
Uma inversão de valores
O que era para ser uma celebração da cultura nordestina está se transformando em eventos comerciais genéricos. Nada contra os outros gêneros musicais, mas São João é forró, é tradição, é identidade. Quando se substitui uma banda de forró por uma dupla sertaneja de Goiás, perde-se muito mais do que um estilo musical: perde-se o vínculo com o que a festa representa.
Valorização cultural é responsabilidade pública
As prefeituras têm um papel fundamental na preservação das tradições. Manter o forró como protagonista das festas juninas não é apenas uma questão de gosto, é um compromisso com a cultura, com os artistas locais e com o turismo sustentável que valoriza a originalidade das celebrações.
Além disso, priorizar artistas locais e regionais é uma forma de fortalecer a economia da própria cidade, fomentar o mercado cultural e dar visibilidade a quem faz a festa com raízes e coração.
É tempo de resgatar o São João de verdade
Com a chegada das festas de 2025, é hora das prefeituras baianas refletirem sobre suas escolhas. Resgatar o autêntico São João é resgatar a identidade de um povo. Que a sanfona volte a ser a trilha sonora dos nossos arraiais. Que a fogueira continue aquecendo, mas sem apagar a chama da nossa cultura.