
Em uma entrevista reveladora à Rádio Conquista FM, autoridades da Polícia Federal (PF) e da Controladoria-Geral da União (CGU) detalharam o funcionamento de um sofisticado esquema de corrupção investigado pela “Operação Intercessor”. O delegado da PF, Rodrigo Kolbe, e o Dr. Antônio Lázaro, da CGU, expuseram como um contrato superfaturado em Poções serviu para desviar milhões de reais, com o dinheiro sendo lavado em Encruzilhada e, possivelmente, usado para financiar campanhas políticas.
O ponto de partida da investigação foi um contrato de terceirização de mão de obra firmado pela Prefeitura de Poções com uma empresa sediada em Barreiras. Segundo o delegado Kolbe, a empresa não possuía capacidade técnica ou financeira para executar o serviço, o que acendeu o primeiro alerta.
A auditoria da CGU analisou sete contratos firmados desde 2023 e encontrou superfaturamento em três deles. O caso mais alarmante foi o do contrato de terceirização, cujo valor máximo inicial era de R$ 4 milhões. No entanto, através de prorrogações “ilícitas e ilegais”, os pagamentos chegaram a quase R$ 18 milhões.
O dinheiro desviado em Poções era lavado através de uma ponte direta com o município de Encruzilhada. Os valores eram transferidos para pessoas físicas e jurídicas na cidade, incluindo parentes próximos do prefeito local.
O delegado Kolbe esclareceu por que o gestor de Encruzilhada se tornou um dos alvos da operação. “O prefeito foi alvo por estar vinculado a transações ilícitas que foram repassadas para essas pessoas e empresas, inclusive parentes próximos dele, e não por sua atividade fim no município”, explicou.
A PF acredita que o principal objetivo do esquema era abastecer campanhas políticas. Essa suspeita é reforçada por uma estratégia meticulosa de lavagem de dinheiro: eram realizados saques semanais de R$ 49.950,00.
“Por esse valor? Porque se chegasse a 50 mil, eles entrariam no radar da COAF. O esquema pensou nisso também,” detalhou o delegado.
Notavelmente, os saques não eram feitos por funcionários da empresa de Barreiras, mas sim por pessoas de Encruzilhada, evidenciando a complexidade da organização.
Prejuízos Trabalhistas e Apreensão de Carros de Luxo
Além do rombo nos cofres públicos, a CGU identificou que a empresa burlava direitos trabalhistas, contratando os funcionários como Microempreendedores Individuais (MEI) para não pagar os direitos previstos na licitação.
A operação não resultou no bloqueio de contas, mas apreendeu bens para ressarcir parte do prejuízo, incluindo veículos de luxo da marca BMW encontrados em um condomínio em Vitória da Conquista. Esses bens poderão ser leiloados para reverter o valor aos cofres públicos.
O delegado Kolbe concluiu afirmando que a operação terá novos desdobramentos, pois foram encontrados documentos que ligam o mesmo modus operandi a outros municípios da região Sudoeste. O material apreendido será analisado e o inquérito encaminhado ao Ministério Público Federal.




