EDITORIAL  Está na hora de repensar as homenagens em Vitória da Conquista?

Em Vitória da Conquista, como em grande parte do Brasil, vigora a regra de que ruas, praças e espaços públicos só podem receber o nome de pessoas já falecidas. A norma, criada há décadas, buscava evitar favorecimentos políticos e garantir impessoalidade na administração pública.

Mas, na prática, essa tradição levanta uma questão que há muito tempo merece ser discutida:
qual é o sentido de homenagear alguém somente depois da morte?

A cidade tem inúmeras personalidades que dedicaram a vida a causas sociais, esportivas, culturais e comunitárias. Pessoas que ajudaram a transformar bairros, defenderam projetos, impulsionaram iniciativas e marcaram gerações. No entanto, o reconhecimento oficial, quando chega, é tarde demais para que o homenageado veja, se emocione ou compreenda o impacto de sua trajetória.

É um modelo que parece não dialogar mais com a realidade atual.

Homenagens públicas não precisam ser sinônimo de vaidade ou benefício político — desde que existam critérios claros, técnicos e transparentes. O que se discute aqui não é o fim das homenagens póstumas, mas a possibilidade de também reconhecer em vida quem, de fato, construiu história e contribuiu para o desenvolvimento da cidade.

Várias cidades no Brasil já revisaram legislações semelhantes. Outras discutem mudanças. Todas partem de uma reflexão simples:
o reconhecimento é mais justo quando pode ser sentido, vivido e compartilhado.

Vitória da Conquista tem maturidade institucional para abrir esse debate. A legislação pode ser atualizada sem perder responsabilidade, seriedade e cuidado com o patrimônio público. O que não pode é manter uma regra que impede a cidade de valorizar seus cidadãos enquanto eles ainda estão presentes.

Este editorial não encerra o assunto — abre a discussão.
Uma conversa que envolve respeito, memória e justiça.
Uma conversa que a cidade merece ter.