Evandro Correia: A voz romântica que agora canta na eternidade

Vitória da Conquista amanheceu mais silenciosa no dia 12 de junho de 2025. Justamente no Dia dos Namorados, véspera do São João — datas tão carregadas de amor, memória e nordestinidade — partiu um dos seus filhos mais sensíveis: Evandro Correia.

O cantor e compositor foi encontrado sem vida em sua casa, na Avenida Pará, no bairro Ibirapuera. Vítima de um infarto, Evandro partiu dormindo, em paz, deixando para trás uma trajetória marcada por luta, arte e um amor incondicional à música.

Evandro Correia não foi um artista qualquer. Foi um pioneiro, um dos primeiros da sua geração a ousar cantar suas próprias composições quando isso ainda era visto com desconfiança. Fez isso com coragem e delicadeza, transformando canções em cartas de amor, retratos da cidade, das pessoas e dos sentimentos mais verdadeiros.

Nascido em 30 de abril de 1959, no Bairro Alto Maron, foi alfabetizado por um sanfoneiro e moldado nas missas e encontros da Paróquia São Miguel, onde descobriu que a música era mais que um dom — era um chamado. Trabalhou como ajudante de pedreiro, office boy, sapateiro… mas foi nos palcos e festivais que Evandro encontrou sua morada.

Foram mais de 30 anos de carreira, 11 discos, 2 DVDs, participações em festivais por todo o Brasil e colaborações com ícones como Dominguinhos, Xangai, Paulinho Pedra Azul e Celso Adolfo. Mesmo assim, Evandro nunca teve o reconhecimento que merecia. Em tempos onde o sucesso depende de músicas grudentas, vocais embolados e letras que muitas vezes rebaixam a figura da mulher, Evandro resistiu com poesia, melodia e respeito. Preferiu o caminho mais difícil: o da beleza, da palavra bem dita, do sentimento que não se grita — se canta.

Seu cancioneiro é uma verdadeira herança afetiva para a cidade e para a música brasileira. Canções como “Rosa Flor”, “O Mote Dela” e “Humildade do Amor” não tocam apenas os ouvidos — tocam o coração de quem sente saudade do tempo em que arte era compromisso com a alma.

Hoje, Conquista se despede de um artista raro, desses que não se fazem mais. Mas a memória de Evandro Correia, assim como sua música, não será esquecida. Ele não buscou fama. Buscou sentido. E encontrou.

As últimas homenagens a esse mestre da sensibilidade serão prestadas nesta quinta-feira, às 15h30, na Casa Régis Pacheco, ao lado da Catedral Nossa Senhora das Vitórias.

Evandro partiu no Dia do Amor. Talvez para lembrar que quem vive pelo amor nunca morre de verdade.