Transtornos de imagem podem levar a cirurgias plásticas desnecessárias e até perigosas

Uma boa autoestima é importante para aceitar a própria imagem diante do espelho. Quando ela está trincada, porém, provoca um problema que pode levar a uma incessante busca por consertar “defeitos” que só existem aos olhos do dono do corpo. E é aí que entram as cirurgias plásticas desnecessárias e a busca por uma perfeição que jamais será atingida.

Esse problema tem nome: transtorno dismórfico corporal. De acordo com o psicólogo e diretor do Centro de Atenção à Saúde Mental – Equilíbrio (CASME), Yuri Busin, esse transtorno de imagem faz com que a pessoa se olhe no espelho e não enxergue a realidade.

“Um exemplo é quando a pessoa está muito esquelética, mas se olha no espelho e se vê gordinha.”

Como isso não acontece somente com o peso, mas com o rosto e outras partes do corpo, ele explica que quem sofre com esse transtorno acaba se submetendo a muitas cirurgias plásticas para consertar coisas desnecessárias e atingir a imagem que espera.

“A pessoa não vai parar nunca [sem tratamento], pois não é tão simples assim”, alerta.

Apesar de existir níveis de transtorno – alguns mais leves, outros mais graves – de forma geral, a característica principal é o descontentamento com o próprio corpo. Aqueles que não têm coragem de fazer cirurgias continuam não aceitando sua imagem refletida.

A psicóloga Vânia Calazans conta que uma boa autoestima é construída, assim como a baixa autoestima. Se focar apenas nos defeitos, a chance de ficar insatisfeito é muito maior.

“Se a pessoa passa a olhar e focar apenas no negativo, está construindo uma baixa autoestima. Isso depende muito de cada um. Muitas vezes o paciente não consegue reforçar esses aspectos bons sozinhos, aí é importante que busque ajuda para ter uma vida feliz”, recomenda.

Quando o transtorno é em um grau mais alto, as cirurgias plásticas desnecessárias aparecem.

“Se a pessoa tiver uma questão mais patológica em relação à autoimagem, está sempre em busca de um padrão ideal de corpo, dificilmente ficará satisfeita com o resultado [de uma cirurgia plástica]. A questão não está na mudança de um determinado aspecto do corpo, é uma questão mais interna, mais psíquica de insatisfação com a imagem corporal. Nesses casos, a pessoa se frustra e se decepciona”, alerta a psicóloga.

O papel do médico, nesses casos, é recusar fazer uma cirurgia desnecessária. O cirurgião plástico Wendell Uguetto explica que, com a popularização das redes sociais, houve um aumento muito grande para fazer cirurgias da face.

“Pessoas que não se incomodavam com isso começaram a pensar por causa das selfies”, conta.

Com esse aumento, houve também uma multiplicação de queixas indevidas. “Há aquele que está querendo parecer com um famoso e vai pedir coisas que não se alcança, como um nariz extremamente fino”, explica Uguetto.

“A primeira coisa é entender a expectativa do paciente e, pela experiência, já sabemos qual será o resultado final. Se é condizente com o resultado possível, perfeito. Quando não é ou quando a expectativa está muito acima, avisamos que não vamos conseguir.”

De acordo com o cirurgião, a maioria entende. O grande problema, segundo Uguetto, é quando a pessoa não entende e continua insistindo.

“O cirurgião deve dizer que não vai operá-lo, já que não será possível atingir aquele resultado. O problema é que a pessoa sempre vai conseguir alguém para fazer essa cirurgia. Vai procurar cirurgiões até achar alguém que opere, e aí vai se decepcionar com o resultado ou ter uma complicação severa, como deformidades e necrose de pele”, alerta.

Quando o cirurgião identifica que o paciente tem um transtorno de imagem, ele mesmo orienta e encaminha para um psicólogo, para fazer um tratamento antes de qualquer cirurgia. “É muito mais difícil reparar um erro. É preciso trazer uma expectativa mais realista.”

Tratamento

Quando o descontentamento com o próprio corpo invade os pensamentos com muita frequência, é hora de buscar ajuda. E essa ajuda não vem da cirurgia plástica, mas sim do consultório do psicólogo. E aí entram as terapias cognitivo comportamentais ou outras linhas que também são eficazes para tratar o problema.

Vânia Calazans explica que, em alguns casos, até o psiquiatra pode entrar em ação. “Essa insatisfação com o corpo pode desencadear outras doenças, como depressão e transtornos de ansiedade”, explica.

“Quando a insatisfação com o corpo traz prejuízos na vida pessoal, seja nas relações profissionais ou afetivas, como deixar de ir à praia, a uma festa, ou deixar de ter um relacionamento afetivo ou sexual porque está insatisfeita com a imagem corporal, ela é considerada patológica”, alerta, recomendando que a pessoa busque ajuda psicológica para superar os problemas e viver uma vida feliz.

Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Autor do blog Bioamigo

 

 

Fonte: R7

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